O ABRAÇO MATERNAL
Olhei para a escultura e chorei de emoção. Era uma escultura de sabão que a minha irmã tinha feito. Tem o tamanho de uma mão, maior do que a minha, já que a minha é pequena. A escultura de sabão azul que me deu a minha irmã faz parte de um experimento artístico que ela está desenvolvendo. Ela criou esculturas de sabão de diferentes formatos, cores e com cheiros também diferentes. Presenteou a cada pessoa que desejasse (conhecidos e desconhecidos) com uma das esculturas, com o objetivo de que quem a recebesse registrasse uma transformação, ou a modificasse a gosto, ou ainda a usasse ou escrevesse algo sobre ela. Ela me deu para escolher entre várias, e eu escolhi a azul, a minha cor preferida. É azul profundo, como a parte mais escura do Caribe e tem a transparência que a glicerina lhe dá. Logo que a vi, me disse a mim mesma: é essa, essa é a escultura com a qual vou ficar! Tem a forma de um abraço. É um abraço, dois braços que se unem e se entrelaçam na sua própria base. Mas também tem uma cabeça, careca, sem rosto, nem olhos, nem nariz, nem boca. Mas “sim” tem queixo e está inclinado levemente, como olhando algo que se ajeita no braço direito, que é mais forte e amplo que o esquerdo. Não tive dúvidas de que se tratava de uma mãe, abraçando e aconchegando uma criança.
Agora olho para a escultura. No lugar onde estaria a criança coloquei uma Bonequinha “Quitapenas”. Acreditam os povos Mayas que devemos contar à pequena boneca (do tamanho do meu dedo indicador) todas as tristezas (ou “penas”) e depois colocá-la debaixo do travesseiro, para que ao dia seguinte as tristezas (penas) desapareçam.
Eu fiz isto, mas as minhas tristezas são tantas e tão enormes que ainda não sei se a pequena bonequinha pode cumprir essa missão. De qualquer forma, agora se pode ver muito bem, como se tivesse encontrado o lugar que lhe corresponde nos braços de sua mãe, para poder contar a ela todas as tristezas que tem recebido. E o Abraço Materno de sabão a recebeu, completando-se a si mesma e cobrindo-se de finíssimas gotas de suor, que parecem uma delicada cobertura brilhante sobre a translúcida superfície azul. Ali ela descansa e desabafa as “penas” alheias.